Design em Pauta

Bom dia! Começando mais uma semana incrível e essa é mais uma chance de reposicionar o seu olhar.

De sair do piloto automático e perguntar: O que realmente importa? O DESIGN EM PAUTA nasce como convite para observar com mais intenção, entender os movimentos do mundo e traduzir tudo isso em espaços que tocam, acolhem e contam histórias.

Quero mostrar aqui o que eu acredito, em como a estética encontra propósito e de como o design pode ser um canal para viver melhor, todos os dias, não só nas férias.

Se você trabalha com design ou simplesmente se interessa por um jeito mais bonito e presente de viver, esse espaço é seu.

Vamos lá?

Movimento Relevante

Entre os dias 5 e 29 de junho, Londres foi palco de uma das mostras mais provocadoras do design contemporâneo: a London Design Biennale 2025, realizada no histórico Somerset House. Mais do que uma exposição de ideias estéticas, o evento deste ano nos convidou a refletir sobre o que as superfícies que nos cercam revelam (e escondem).

A curadoria da edição de 2025 ficou sob a direção artística de Samuel Ross, designer e fundador da A‑COLD‑WALL*. Conhecido por seu trabalho que cruza arte, moda, política e urbanismo, Ross propôs um tema que expandiu os limites do design: Surface Reflections (Reflexos de Superfície).

Seu convite foi claro: Como o design pode ser um espelho das nossas experiências internas e das forças externas que moldam a nossa forma de viver, sentir e projetar o mundo?

Mais do que responder com formas e objetos, os pavilhões participantes ofereceram narrativas imersivas. A estética, nesta edição, foi apenas o primeiro degrau de uma escada mais profunda que levava à memória, ao pertencimento, à ancestralidade e ao questionamento.

Foi um chamado para sair do raso. Para entender o design como um campo que expressa identidade, emoção e transformação social.

Diversos países responderam com projetos impactantes, entre os mais falados, temos:

O pavilhão do Japão foi um dos mais delicados e impactantes. A instalação, chamada “Paper Clouds”, criou uma paisagem de nuvens feitas com Washi, um papel artesanal tradicional japonês, conhecido por sua leveza e beleza natural.

Essas nuvens flutuavam no ar, convidando o visitante a pausar, respirar e simplesmente sentir. O espaço todo parecia suspenso no tempo, quase como se fosse possível tocar a calma.

Mais do que uma cena bonita, o pavilhão trazia um recado: às vezes, o que mais nos transforma não é o que impressiona, mas o que nos acalma. Cada detalhe revelava a conexão do Japão com a natureza, o tempo e o cuidado nas pequenas coisas.

O pavilhão de Hong Kong explorou como os espaços que a gente vive podem se conectar com as nossas emoções. Usando dados reais de moradores da cidade sobre felicidade, ansiedade e estresse, os criadores montaram uma instalação que unia design, tecnologia e sentimentos.

Ao entrar, cada visitante colocava uma faixa na cabeça que captava suas emoções em tempo real. Essas emoções eram transformadas em formas, cores e movimentos projetados no ambiente. Era como se o espaço mudasse de acordo com o que cada pessoa sentia.

O resultado era uma experiência envolvente, quase hipnótica, que mostrava como o design pode ir além da aparência e criar conexões emocionais verdadeiras com quem vive ali.

Já fiquei imaginando ambientes que adaptam luz, som ou layout de acordo com o nosso humor, seria com certeza uma experiência incrível, né?

O pavilhão de Omã foi um dos grandes destaques da Bienal e recebeu a medalha de design. A instalação misturava tradição e tecnologia de um jeito muito poético: eles criaram uma estrutura feita com vasos de cerâmica tradicional, organizados como se fossem blocos de um data center (aqueles ambientes que armazenam dados digitais).

As luzes em tons de azul e laranja, combinadas com o som ambiente, davam a sensação de que a memória do povo omanense estava ali, tudo tratado como se fossem dados preciosos armazenados com muito cuidado.

A mensagem era o que escolhemos guardar, seja uma lembrança, uma tradição, um objeto. Isso ajuda a construir a nossa identidade. E o design pode ser uma ferramenta para honrar e organizar essas memórias no espaço físico.

Isso é muito do que defendo em meus projetos, em vez de espaços genéricos, desenhamos casas que preservam histórias afetivas. Para mim, casas de férias precisam ser espaços com pequenos arquivos de momentos importantes. Um canto com fotografias antigas, um móvel herdado da família, um objeto de viagem com valor sentimental. Assim criamos um ambiente que não só acolhe, mas também conta a história de quem vive ali.

Assim como em Omã, esses objetos podem se tornar os verdadeiros protagonistas da casa, tesouros visíveis que despertam lembranças, conversas e emoções.

Quer se aprofundar no assunto e ver sobre os outros pavilhões? Acesse https://londondesignbiennale.com/

Artista Destaque

Vivemos cercados por imagens, mas poucas têm o poder daquelas que registram o tempo com intenção. A fotografia, desde sua origem, tem esse papel, de parar o tempo por um instante, eternizar o que logo desapareceriam na correria do cotidiano.

Em nossas casas a presença de fotografias verdadeiras, feitas com propósito e sensibilidade, ajuda a construir vínculo emocional com o lugar. Ela transforma a decoração em narrativa, a parede em lembrança, o ambiente em território afetivo.

Ter uma fotografia autoral em casa é, muitas vezes, mais do que uma escolha estética. É uma decisão sobre o que queremos guardar, o que merece ser lembrado, o que ainda faz sentido, mesmo quando tudo muda.

É nesse contexto que o trabalho de Bruno Carlesse se torna cada vez mais relevante. Fotógrafo com atuação autoral, Bruno desenvolve há anos um acervo consistente de paisagens naturais de Guaratuba, no litoral do Paraná.

Ao contrário de registros turísticos ou comerciais, seu olhar é pausado, técnico e emocional. Ele fotografa o território com quem pertence a ele, valorizando o que é simples, o que é leve, o que muitas vezes passaria despercebido.

No último ano, a cidade de Guaratuba tem passado por grandes intervenções urbanas. Projetos como: A engorda da orla, com mudança na faixa de areia e alterações no perfil natural da praia; A futura ponte ligando Guaratuba a Matinhos, que afeta diretamente a paisagem da baía; O avanço acelerado da construção civil em diversas áreas antes preservadas.

Essas mudanças, ainda que tragam desenvolvimento, também representam uma mudança profunda na paisagem local. Muitas das cenas naturais que Bruno registrou com sua câmera simplesmente deixarão de existir como são hoje.

Nesse contexto de transformações urbanas, o trabalho de Bruno Carlesse se torna especialmente relevante. Ele tem documentado, paisagens de Guaratuba que passarão por mudanças importantes nos próximos anos. Seu acervo contribui para a valorização da memória visual da cidade, oferecendo um registro consistente de sua geografia natural em um momento de transição.

A fotografia tem o poder de eternizar o que está prestes a desaparecer. E quando olhamos para Guaratuba hoje, entendemos que o trabalho de Bruno Carlesse não é apenas artístico, é também histórico, afetivo e territorial.

Em um tempo em que tudo muda tão rápido, sua obra nos lembra de olhar com mais atenção para o que temos agora. Porque em breve, talvez só reste a lembrança.

Legal Saber!

A Pole House e o poder do design que transforma paisagem em experiência

Suspensa sobre um único pilar de concreto, a Pole House, na Austrália, é uma das casas mais icônicas do mundo quando o assunto é arquitetura em regiões costeiras. Localizada em Fairhaven, na célebre Great Ocean Road, a residência se tornou ponto turístico e referência internacional em design por unir estrutura ousada, integração com a paisagem e experiência sensorial.

Projetada originalmente nos anos 1970 pelo arquiteto Frank Dixon, a casa foi inspirada em um conceito simples, mas radical: criar uma construção que não bloqueasse a vista da encosta e ao mesmo tempo oferecesse ao morador a sensação de flutuar sobre o oceano. Para isso, foi construída sobre um pilar de 13 metros de altura, com uma passarela estreita de acesso, como se o visitante caminhasse até uma cápsula no horizonte.

Décadas depois, a Pole House foi completamente renovada pelo escritório F2 Architecture, mantendo a silhueta original, mas adotando novos materiais, como vidro estrutural, aço e acabamentos modernos. A nova versão preserva a vista panorâmica de 180 graus para o mar, agora com tecnologia embarcada, como automação de cortinas, iluminação e climatização, lareira suspensa e elementos de design minimalista que reforçam o protagonismo da paisagem.

Além da estrutura ousada, o que torna a Pole House tão simbólica é sua capacidade de transformar arquitetura em experiência emocional. Do barulho do vento ao balanço suave provocado pela brisa, tudo na casa foi projetado para colocar o morador em estado de presença. A casa não se impõe à natureza, ela se integra a ela, oferecendo um refúgio de contemplação e silêncio em meio ao vazio visual do oceano.

Hoje, ela esta em listas de casas mais fotografadas da Austrália, e inspira arquitetos e designers ao redor do mundo a repensarem a forma como construímos em cenários naturais sensíveis, sempre com respeito à paisagem, uso inteligente da técnica e compromisso com a emoção que um espaço pode despertar.

Mais do que vista, ela oferece perspectiva, mais do que luxo, oferece pausa. E mais do que estética, oferece experiência.

Talvez por isso ela tenha me tocado de forma tão imediata. A verdade é que, ao conhecê-la, me veio à mente uma referência muito mais próxima e pessoal. A icônica casa projetada por Lolô Cornelsen em Guaratuba, onde hoje tenho o privilégio de manter meu escritório e loja Boutique, a Casamar Guaratuba. Ela também carrega essa mesma sensibilidade: uma arquitetura suspensa, que respeita o terreno, valoriza a paisagem e propõe leveza estrutural como forma de diálogo com a natureza.

Ambas as casas nasceram em tempos e continentes diferentes, mas compartilham uma ideia essencial: que o verdadeiro luxo está em habitar a paisagem, e não apenas observá-la. E que o bom design, quando é inteligente e consciente, se eterniza não apenas pela forma, mas pela experiência que proporciona.

Reflexão da Semana

Encerro com um lembrete de que design não é só sobre o que está na moda, é sobre como traduzimos o que o mundo nos mostra em escolhas conscientes, experiências verdadeiras e espaços que fazem sentido para quem somos e para onde queremos ir.

Seja uma casa suspensa sobre o mar, uma paisagem que está prestes a mudar ou uma fotografia que preserva o tempo, tudo aponta para uma pergunta essencial:

O que você quer que permaneça no espaço que você habita?

Essa é a beleza do design bem pensado, ele eterniza o que importa com intenção, sensibilidade e propósito.

Tenham uma ótima semana ♡

Priscila Poli

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